Untitled Document
Assine nosso feed RSS -O que é RSS?
Untitled Document  
 
 
Untitled Document
Esquecidos, espetáculo de dança-teatro relembra as vítimas da guerra
s
Editais de cultura movimentam mercado
da arte. Conheça os
programas e inscreva-se

s

No MAC
simbolismo em julho e
Tarsila em agosto
s
Seminário Internacional discute a relação entre arte e política nos anos 90
s
Em Lisboa, Tuneu e Werneck mostram seus opostos em Brancos
s
Vem pro Pateo
no domingo
s
AICA
Canclini e Leenhardt no
41º Congresso Internacional dos Críticos de Arte

s

20/06 de 2007

Residência artística em Portugal revela encantos, identidades, diferenças e tradição na arte.

Leia o relato do artista Mauro Andriole

s
Vaga Língua

Ferro, madeira, pedra e barro,tudo no Porto exala a passagem da matéria pela mão do artista(...) Tem-se a impressão de andar por um monumento a céu aberto, seja no interior de um café ou numa das muitas igrejas centenárias”.

s
09/06 de 2007
Agenda de Junho
s
Entrevista

José do Nascimento Júnior
diretor de museus do Iphan

Investimento em museus aumenta, mas ainda
não é o ideal

s
30/05 de 2007
Mestres da pintura
O que pensa Caru Duprat sobre a coleção de arte da Folha de São Paulo
s
29/05 de 2007

Entrevista
Helouise Costa
coordenadora da Semana de Museus da USP
Debates não são conclusivos: estimulam a crítica dentro
dos museus

s
 

Memória
de quem?

Pergunta Maria Cecília França. Boa parte dos museus regionais foram criados por decretos-leis antes e durante a ditadura militar. Muitos não saíram
do papel.

s
 
Cursos e Palestras
  • Crítica à modernidade na livraria cultura
  • Notícias da Esdi
  • Ciência da Informação
  • O Quixote de Cervantes
  • Fotografia e Arte
  •  
    Museus
    Desafios da
    contemporaneidade

    6ª Semana dos Museus
    da USP

    Leia abaixo resenhas das palestras e entrevista com o Professor Ulpiano
    Bezerra de Meneses

     

    Museu da Maré (RJ)
    O que, agora, é museu?
    A reflexão de Bruce
    Altshuler inaugurou a
     6ª Semana de Museus
    s
     

    O Museu Local

    Cabana de Euclides da Cunha

    É o espaço que pode estreitar
    as relações entre  sociedade
    e a cultura local.

    s
     
                  Entrevista
    Ulpiano B. de Meneses:
    políticas multiculturais
     reconhecem mas não incorporam as diferenças culturais

    s

     

    Quando a Arte Japonesa
    é reconhecida pelos
    museus do Ocidente

    s
     

    Raças Puras
    e Raças Mistas

    A coleção escondida do
    Peabody Museum

    s

    Untitled Document
    Residência artística II

    Das viagens pode-se dizer que nunca voltamos os mesmos, somos sempre outros emergindo de rios que nunca param de correr, relembrando nesse instante a percepção que Heráclito teve sobre a natureza das coisas.”

     Vaga Língua

    Mauro Andreoli*

                Seguindo as águas deste discurso em eterno devir, falo agora das paisagens do D’Ouro, refletindo seus azuis profundos a desaguar no Atlântico, de encontro às frias ondas que banham a freguesia da Foz, no Porto.

                A cidade é envolvente, tem seu ritmo próprio, banhado de nostalgia, de odores do cais, madeira, mar e cafés pelos seus lugares antigos. Dezembro é época muito fria, as temperaturas bateram os dois graus, mantendo uma média máxima de oito talvez. As roupas pesadas acentuam o ar severo, as feições fechadas numa introspecção constante, o que nos leva a compreender o porque da poesia portuguesa ter atingido níveis  altíssimos de expressão. A região da baixa, às margens do D’Ouro concentra as edificações do período medieval, que é a face mais conhecida do Porto, é seu cartão postal. A ponte D.Luis une a Ribeira às caves do vinho do Porto em Vila Nova de Gaia. A construção em metal foi idealizada por Eiffel, e desponta como o marco internacional da cidade. Há sobre o D’Ouro, a pouca distância da ponte D.Luis I, a ponte D. Maria, atualmente interditada, e que também exibe um belíssimo desenho em sua estrutura metálica.


                Mas a cidade se desenha para além das margens do D’Ouro. Subir pelas ruas estreitas nos leva de encontro à Torre dos Clérigos, construída em 1758, medindo 75 metros, também é um marco da cidade, além de outras, como a Igreja de São Francisco iniciada no século XIV, possuindo catacumbas em seu interior que é ricamente decorado com colunas e pilares, querubins e guirlandas.    

                Estas são as paisagens que vi durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro últimos, período em que residi na cidade, conhecendo “as gentes”, artistas, os lugares e os modos de ser. Produzi obras neste período, pinturas, gravura e cerâmica, mas antes de contar sobre minha produção artística por lá, creio que vale pensarmos no que é fazê-lo em “português”, isto é, percebermos que na criação de imagens há muito mais do que se supõe.  E perceber isto nos leva a constatar que antes de tudo a matriz portuguesa é de natureza artística, que é justamente na expressão da alma que este povo veio a criar suas raízes, sobretudo, no que a língua soube lhes dizer, e que nos transmite como legado cultural.  

                Por isto, de imediato, contar a lembrança dessa viagem a Portugal me pareceu fácil, afinal, é a terra que nos deu a língua e ainda nos dá tantas memórias vivas no imaginário brasileiro. Sobressaiu de imediato o “familiar”. Mas dissipadas as aparências fáceis, cresceu a sensação de “novidade” quando, daqui do Brasil, pensando nesta “nossa” língua, me faltaram às palavras uma “tradução”para o que foi sentido e imaginado lá em português.

                Persiste assim o tal “descobrimento”, agora em sentido oposto, revelando o percebimento de uma estranha diferença que a língua matriz encerra em si mesma. Digo aqui sobre o que vai além das diferenças de nomes de coisas,  constatação que é apenas uma sombra pálida da questão.     


                Assim, falo da importância de reconhecer as diferenças e igualdades intrínsecas entre a cultura dos povos, que surgem aqui, neste meu breve relato, como a minha percepção do fenômeno lingüístico, em sua potência criadora,  engendrando formas na mente. Formas que potencialmente estão presentes também em mais de 200 milhões de pessoas espalhadas pelo mundo. Imagens comuns que às vezes são apreendidas como parte de um destino, sobretudo, para os que não nasceram às margens do D’Ouro ou do Tejo, nem em Trás-Os-Montes, nos Açores ou na Madeira. Estamos de algum modo ligados, lusitanos, brasileiros e africanos, por este fio imaginário que desenha um tênue contorno, colorido posteriormente segundo ordens e vontades absolutamente particulares, porém, sem jamais se dissolvem por completo, preservando a idéia originária de unidade. Para alguns, isto pode corresponder ao desejo antigo pelo “império”, para outros, é só mais uma fantasia dentre as tantas que nasceram aos pés da moderna Babel. 

                Correspondendo ao lirismo que o Porto traz aos sentidos, diria que as “nossas línguas portuguesas” buscam ser poesia na superação das diferenças substantivas, trazendo à tona em cada indivíduo, semelhanças exibidas na atualidade da fala, naquilo que os predicados são em suas potências originárias.

               

                O PORTO

                Se é verdade que cada um de nós ocupa um só lugar no espaço, no Porto surge uma firme sensação de que habitamos também um só tempo, o de “um” passado que pulsa ali mesmo onde a mão “está a alcançar” as imagens do presente.

                A obviedade deste deslocamento temporal, deste retorno, re-ver um  dado momento histórico, nasce naturalmente do contato visual com a cidadeinvicta, do que ela exibe em seu primeiro plano. Mas atrás dos véus inebriantes das visões de pontes, do vinho e do rio, há outra vida interna que se oculta justamente no óbvio. Falo das atividades rentes ao dia do comércio, da indústria e da política. Assim, só quando o deslumbramento turístico inicial sede lugar ao olhar que para além das formas arquitetônicas antigas, é que a percepção pousa num cotidiano urbano complexo e em franca transformação.

                Ferro, madeira, pedra e barro, tudo no Porto exala a passagem da matéria pela mão do artista ou ao menos sob seus cuidados. Tem-se a impressão de andar por um monumento a céu aberto, seja no interior de um café ou numa das muitas igrejas centenárias. A arte está presente em tudo. Numa rua há a possibilidade de registrar milhares de padrões diferentes de azulejos recobrindo as casas, e o mesmo ocorre com os gradis projetando-se para a calçada. 

                Mas a vida da cidade também se atualiza noutro ritmo que o de seus monumentos seculares, movimento que foi acelerado pelas exigências da entradarecentede Portugal na Comunidade Européia em 1986. O processo globalizante e a conseqüente integração que promove sobre a sociedade portuguesa  traz  à tona as necessidades desta nova Europa “unificada”, sombreando as antigas formas lusas de ser e criar a vida, transformando-as, e transformando toda a vida portuense num palco de grandes confrontos, surgimento e desaparecimento, resistência e adesão. O ambiente intelectual portuense vive intensamente o problema da transição de paradigmas, a sociedade está em discussão pelas ruas, junto aos cafés, nas livrarias.  Os antagonismos são rapidamente percebidos e localizados quanto à orientação política que seguem devido a objetividade e firmeza ideológica com que artistas, escritores e escultores defendem suas perspectivas.

                Credito esta característica ao número reduzido de atores culturais da cidade, se comparados com os da cidade de São Paulo, por exemplo, que possui uma quantidade infinitamente maior de indivíduos ligados às artes e a cultura.

                O Porto conta hoje com uma população aproximada de 380 mil habitantes. Possui um desenvolvido setor cultural distribuído em pequenos núcleos bem definidos, entre eles, além dos artistas, estão também os professores e os estudantes. Assim podemos presumir deste contingente atuante, que não há um número tão grande de pessoas envolvidas no circuito oficial, a ponto de criar o anonimato que prevalece na cidade de São Paulo, e por isto, tais atores culturais acabam mantendo algum contato, em algum momento de sua atividades. São nestas ocasiões que o diálogo toma corpo. Elevam-se figuras e projeções são lançadas quanto aos rumos da arte.    

                É assim que a mansidão poética das águas do D’Ouro se agitam e assumem outra função que não apenas  a de alimentar o lirismo lusitano. Agora há o apontar para mais uma “nova expansão, ampliar as áreas de contato que a língua comum facilita. (Pros)seguir o que parece ser uma vocação ou talvez o destino deste povo: ser um outro no além mar.

                Lirismo à parte, a orientação comercial portuguesa tem no Brasil seu maior porto, por razões que não nos ocuparemos aqui. Por outro lado, além do empreendimento mercantil é o comércio entre os homens, justamente essa nau, que leva consigo um processo intenso de disseminação cultural e de miscigenação de imaginários,  que transforma o entorno de modo diferente do que o que é promovido pelas vias da mídia e da internet. Daí é que se diz, lá no Porto, que se o Brasil também é uma casa portuguesa o Porto também deve ser uma porta desta mesma casa, por onde entram os brasileiros. Contudo, o trânsito mútuo dos “irmãosde língua não é senão também mais uma aparência, quando pensamos no que poderia ou, mais ainda, no quedeveria” ser, pois a crua realidade mostra outra cena. É desproporcional a área de contato cultural entre os dois países se compararmos com as atividades efetivas realizadas no âmbito comercial.

                De início, as áreas de contato cultural chegam aqui nos trópicos menos do que necessita nossa capacidade de conhecer e aportam por igualmente de modo incipiente, limitadas em geral à sociedade portuense ao lugar comumo samba e o futebol. Em contrapartida as imagens do medo, da violência urbana brasileira, sobretudo as da vida paulistana e carioca invadem em abundância os televisores. Sobram assim às iniciativas particulares, que demandam anos de esforços individuais, a tarefa de mudar esta balança cultural.

                Certo também é dizer que se há movimentos contra a homogeneização da cultura, o Porto reúne as condições para abrigá-los.  Os mecanismos para impedir a dissolução das visões tradicionais sobre as “artes portuguesas” permanecem atuantes, não como resultado de um consenso entre os atores da cultura, – cenário que na verdade apresenta cisões acentuadas – , mas pelo difícil acesso criado por esse mesmo tradicionalismo e que se deixa tanger pelo novo em raras circunstâncias.

                Sob o olhar estrangeiro o caráter portuense, de imediato, se mostra grave, incisivo, firme e pouco refratário às mudanças externas, vistas sempre de fora, da perspectiva de uma tradição plena de certezas e sabedora de seus caminhos e lugares. Portanto, o contato mais íntimo com a arte feita hoje na cidadeinvictaé trabalhoso para o artista estrangeiro, seja ele brasileiro ou chinês.

                As exposições acontecem ininterruptamente. Trata-se mesmo de uma vocação da cidade portuária: exibir-se como centro de cultura. Museus, galerias e afins estão abertos a todos,  e o público em geral tem contato periódico com obras estrangeiras. Entretanto, pode limitar-se a fruir a partir do discurso português, que busca seu próprio estatuto de universalidade em tempos de transição. Se esse é o destino da obra de arte por essência ou mera pasteurização da apreensão artística, tanto faz.

     

                A questão é que este não é um contato que revela ao estrangeiro o que move o íntimo do artista português, que se preserva da desintegração contemporânea amparado pelo peso das suas instituições seculares que lhe dão amplas condições de transitar pela tradição sem constrangimentos, sem assumir nesta conduta moral contornos negativos ou pejorativos.

                Há, por lá, muito mais a se ver do que está posto nas aparências e muito mais ainda a mostrar da nossa cultura para o que se julga ser do interesse lusitano.

                O tempo agora é o de construção de diálogos, de reavaliações sobre  as nossas reais condições de compreender este outro momento histórico em que o “imaginário português” – fantasiosamente ou não - reúne em sua matriz lingüística, nações distribuídas em quatro continentes diferentes, sendo o Brasil a maior delas. Tal potência se amplia quando pensamos no âmbito das artes, pois é  deste núcleo que pode surgir outros modelos de convívio cultural.

     

    *Mauro Andriolegraduado em Filosofia pela USP, gravador e pintor, escultor, ilustrador. Suas últimas participações: I Salão Internacional de S. João da Madeira e da Exposição de Arte Integrada ao SEMINÁRIO PORTUGAL – PALOP/CPLP – BRASIL; na SERVARTES , espaço multimídia no Porto, e também no Espaço de Arte Vera Lúcia; no Brasil, participou como convidado especial da 3ª Bienal Nacional de Gravura Olho Latino, Atibaia, em Maio de 2007.

     

             Leia mais Residência artística e Cultural, Mauro Andriole aqui

             Imagensarquivo do artista


    Deixe seu comentário

    [Versão para impressão] 

     

     

    Untitled Document
    Copyright © 2006-2007 - Cores Primarias - Todos os direitos reservados