“Oscar Pereira da Silva foi um artista de seu tempo, um artista acabado. O que significa dizer que, como artista, compreendeu o espírito de sua época, os valores e os gostos de seus contemporâneos (...)”
Ruth Sprung Tarasantchi
Oscar Pereira da Silva
O testemunho de uma época
Como na mostra, a curadora Ruth Sprung Tarasantchi, procurou através do livro Oscar Pereira da Silva, produzido pela Empresa das Artes, valorizar todas as fases e faces da trajetória do artista, analisando os trabalhos produzidos e as mudanças que ocorreram. Nas 180 páginas e 250 imagens de obras, fotos pessoais e documentais de Pereira da Silva, uma série de boas informações são reveladas, neste que é considerado o primeiro e mais completo trabalho sobre o artista.
Fundação da Cidade de São Paulo, 1903
As páginas iniciais são dedicadas à formação pessoal de Pereira da Silva, no Rio de Janeiro, onde nasceu, desde os primeiros passos como pintor, os primeiros prêmios, as primeiras pinturas, as viagens a Paris , os casamentos, as filhas, a mudança para São Paulo, a morte em janeiro de 1931. Muitas das informações sobre a vida pessoal de Oscar Pereira a pesquisadora obteve do diário pessoal de uma das filhas, Helena Pereira da Silva Ohashi, também pintora. Segundo a pesquisadora, a família teria poucos documentos sobre a vida e obra do artista uma vez que foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial.
Ainda nesta primeira parte, a autora descreve como a filha Helena, de volta ao Brasil em 1930, de onde estivera ausente durante anos, percebe a diferença na fatura das telas pintadas pelo pai .Para ela, a preocupação do artista pelo desenho continuava, mas as cores utilizadas já não tinham a mesma intensidade, eram mais claras e transparentes, e o acabamento não apresentava o mesmo rigor de antes.
Estrada do Vergueiro, 1904. C.p.
A historiadora mostra que antes mesmo de Pereira da Silva aprender os gêneros nas escolas francesas, ele já pintava a temática histórica, fazia cópias reduzidas de pintores que ele admirava, como Rego Monteiro e Almeida Junior ( ambas presentes na mostra) e trabalhava com modelo vivo, fruto do convívio com a Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro. Foram dessa época também as odaliscas (Odalisca e Jovem Árabe, Sansão e Dalila), de grande força pictórica, e a Escrava Romana.
Cena de Guerra em São Paulo da Revolução de 1932.
Aquarela e nanquim, C.p.
Na temática oriental são comuns retratos e cenas com japonesas com coloridos quimonos, seguindo o gosto vigente na Europa, segundo Ruth Sprung, dos séculos 18, 19 e início do 20( japonesa com leque, Japonesa com Quimono, Menina vestida de Japonesa e Moça com Bandeja, todas de coleções particulares.
Como um homem de seu tempo, não poderia faltar as alegorias de temas diversos e que teriam seu valor, segundo a historiadora, associado a uma estética de origem francesa que utiliza figuras mitológicas para expressar valores e ideais das sociedades.Entre as mais significativas: Uma comédia ambulante nas ruas de Atenas, no Teatro Municipal, em 1911; Colheita de Algodão e Embarque do Algodão no Porto de Santos – em que aparece uma deusa vestida com a bandeira nacional – ambas na ESALQ, em Piracicaba. Além da Alegoria a São Paulo com a Vitória, uma homenagem a revolução de 32.
Cada vez mais raras no final do século 19 e início do 20, as pinturas religiosas, foram pintadas por Pereira da Silva, cujos temas seguiam a tradição de mostrar a mortificação de Cristo, a grandeza de Maria, etc. Ascensão de N.Sra da Imaculada Conceição e Casamento de Santa Ana, ambas na Igreja Santa Cecília, em São Paulo; e o tríptico, na Igreja da Consolação, que mostra o encontro de Maria com sua prima Isabel, o nascimento de Cristo e a apresentação de Jesus no templo.
Na pintura histórica, teatralidade e realismo . Oscar Pereira sabia da importância desse gênero de pintura, o mais nobre entre todos os demais, e não economiza os gestos e expressões teatrais dos personagens figurados. O físico avantajado do herói representa a sua força, descreve Ruth Sprung, da mesma forma que a beleza acompanha a heroína. As pinturas criam a ilusão do real e seus heróis tornam-se modelos de representação da história: Bandeirantes a Caminho de Minas (baseado em desenho de Debret), Calçada de Lorena, Desembarque de Pedro Alvarez Cabral em Porto Seguro, Nau Capitânia de Cabral, Fundação da Cidade de São Paulo, entre outras, todas pertencentes ao acervo do Museu Paulista. Além de Guia Lopez na Retirada da Laguna e Cena de Batalha no Sul do Brasil, também presentes na exposição, de coleções particulares.
A Costura, s/d. C.P.
Aos poucos, conforme revela a escritora, as pinturas de gêneros mais leves vão ganhando mais espaço na sua produção, os retratos,naturezas-mortas, flores e animais, paisagens e desenhos “ revelando ao mesmo tempo as transformações de estilo que um artista acabado é capaz de incorporar em seus trabalhos tardios, sem perder as qualidades originais pelas quais ficou conhecido”. São dessa fase, as cenas burguesas, que revelam, segundo Ruth Sprung o universo da vida privada das famílias abastadas; Cenas do Interior, no Museu Imperial de Petrópolis; Cristaleira, Enfiando Agulha, Helena Bordando (filha do pintor), Uma Casa Brasileira, Mulher Penteando, Doceira, todas de coleções particulares.
Com os retratos pode-se ver a influência da fotografia, amplamente utilizada por artistas de sua época. “Embora sendo a fotografia um auxiliar eficaz da pintura”, ressalva Ruth Sprung, “especialmente no caso dos retratos, a fotografia tornava-se também a sua concorrente”. Existem centenas de telas desse gênero de pintura, espalhadas nas coleções particulares e nas públicas, muitas de ilustres desconhecidos.
serviço
Livro Oscar Pereira da Silva
Ruth Sprung Tarasantchi
Editora da Artes
Produzido pela Pinacoteca do Estado, Governo do Estado de São Paulo e Sociarte- Associação dos Amigos da Arte de São Paulo
Vendas: loja da Pinacoteca do Estado
R$ 90,00
Avenida Tiradentes, s/nº/ Luz
Imagens/Divulgação
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