Durante a 6ª Semana de Muses da USP, realizada de 15 a 18 de maio, Toshio Watanabe, professor do Chelsea College of Art ant Design e diretor do Centro de Pesquisa da Universidade de Artes de Londres
(TRAIN), falou sobre o processo que levou ao reconhecimento da arte japonesa pelo Ocidente. E de como a produção de objetos japoneses, reveladores da tradição milenar dos povos daquele país, transformou-se de “espécime etnográfica” a objeto de arte nos museus do Ocidente.
Para o professor Watanabe, três foram os estágios que desencadearam o processo de reconhecimento. O primeiro deles foi a “descoberta”das estampas orientais a partir da publicação da The Grammar of Ornament, do inglês Owen Jones, em 1856.
Até então, segundo Watanabe, havia um total desconhecimento e até desprezo das belas artes japonesas. A Gramática dos Ornamentos, resultado das expedições inglesas em várias regiões do mundo, revela uma riqueza de estamparias e desenhos decorativos de civilizações orientais, muito embora, segundo o historiador, apresentavam-se desprovidas de contexto histórico que facilitasse a compreensão da origem específica desses ornamentos. Nessa publicação, Jones teria ressaltado a superioridade dos ornamentos orientais em relação aos ocidentais abrindo as portas para o interesse de ocidentais pela produção oriental.
A primeira vez que o Japão participou da Exposição Universal, no Palácio de Cristal, em Londres, em 1862, teria sido também um momento de grande revelação da produção artística japonesa. Acima de 6 milhões de pessoas teriam visitado essa exposição e a receptividade aos artefatos japoneses foi das melhores. A partir dessa experiência, continua suas explicações o historiador japonês, "a arte chinesa passa o bastão para a arte japonesa como representante da arte asiática”.
Em torno de 1860 profissionais do design passaram a assimilar a estética japonesa em seus trabalhos e os artefatos produzidos naquele país começaram a “invadir as casas”ocidentais como elementos de decoração. Apesar da ascendente aceitação, o acolhimento da arte japonesa nos museus ocidentais foi um processo que perdurou por 10 longos anos, de 1850 a 1860.
Enquanto isso, no Japão, “uma outra história estava ocorrendo”, explica Watanabe.Os japoneses não se consideravam artistas, mas artesãos anônimos produzindo objetos com fins nitidamente utilitários, sem preocupação estética.
Apesar do reconhecimento da arte japonesa no Ocidente ter tido como porta de entrada as experiências inglesas – publicação do livro em, 1856, e participação na Exposição Universal de 1862 – foi nos anos posteriores, com o fenômeno do japonismo, que a estética japonesa foi utilizada maciçamente nas artes e no design. No impressionismo e pós-impressionismo, “com exceção de alguns artistas que tiveram uma relação de interesse e até envolvimento emocional com o japonismo, como Gauguin e Van Gogh”, afirma Watanabe, “os demais aderiram ao modismo da época selecionando e adequando as características da estética japonesa que mais lhes interessavam”.
Imagens retiradas da edição francesa La Grammaire de L´Ornament, de 2001, ed. L´Aventurine, reproduzida da edição de Bernard Quaritch, de 1865.
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