Na mostra Mario Zanini, territórios do olhar, no Museu da Casa Brasileira, da FAAP, a cidade de São Paulo bem como os bairros industriais, têm um lugar especial no percurso das obras do artista. Cambuci, Mooca, Brás; e no centro Praça Bevilágua, Vale do Anhangabaú, Praça da Sé, Nove de Julho, e cenas domingueiras às margens do rio Tietê. Nada que se assemelhe aos dias de hoje.
Realizada em homenagem aos 100 anos de nascimento de Mario Zanini, a mostra está aberta ao público desde 25 de março, de terça a domingo, e tem como curadora a docente do Mac-Usp Daisy Peccinini . O espaço museográfico organiza-se através das produções temáticas do artista; o núcleo das marinhas, dos retratos, de nus, das paisagens urbanas, das naturezas mortas. Estão também presentes os trabalhos e estudos preliminares para a Osiarte, as pinturas geometrizadas, desenhos e gravuras.
Ao centro, um núcleo expositivo ambientado com uma ampliação gigante de uma de suas pinturas de ateliê reúne objetos pessoais do artista, documentos, seus pincéis e tintas, fotografias com artistas contemporâneos, e livros em sua maioria italianos, que compunham sua variada biblioteca de arte e cultura.
Boa parte das 150 obras presentes, entre gravuras, pinturas, desenhos, e objetos em geral pertencem ao acervo do MAC – Museu de Arte Contemporânea- da Universidade de São Paulo, museu beneficiado pelas doações da família Zanini, mas a maioria das peças vem de coleções particulares.
A mostra evidencia uma diversidade de temas e técnicas, mais do que isso, uma curiosa pesquisa que às vezes negligencia a linha diante das massas coloridas, ou substitui os traços definidos do figurativo pelo abstrato. Zanini trabalhou com uma variedade de suportes e técnicas: óleo sobre tela, gravuras em xilo e linóleo, desenhos , além de ter pintado para a série de azulejos do projeto Osiarte.
Do núcleo de Retratos, produzidos no final da década de 30 e 40, o de Hilde Weber, de 1938, doação da família Zanini ao Mac, chama a atenção bem como Retrato de Odetto, de 1944.
Em Lutadores, de 1943 e Banhistas, de 1940, revela um artista olhando de perto para pintores como Picasso e o contemporâneo Portinari. As paisagens urbanas, em sua maciça maioria, destacam pontos importantes da cidade de São Paulo tais como Praça Beviláqua, Vale do Anhangabaú, Largo do Carmo, Parque Dom Pedro, Catedral da Sé, mas não faltam os inúmeros registros de paisagens periféricas ou de áreas industriais como Cambucí, Canindé, Mooca e Brás. A preocupação com a paisagem urbana , especialmente, da cidade de São Paulo é evidenciada na exposição através de depoimento transcrito do artista Rafael Galvez “a pintura paulista é pintura de expressão” retirado do livro Raphael Galvez, escrito por Mayra Laudanna, em 1998.
O núcleo de gravuras recebe uma considerável apresentação: a réplica de um artigo feito por Sergio Milliet, para o suplemento de Rotogravura do Jornal O Estado e São Paulo, de 1941. Escreve o crítico “ (...) a monotypia não é novidade, mas em São Paulo ella está fazendo furor neste momento e um grupo de bellos artistas se dedica, com bom exito, às mais interessantes tentativas. Citamos de memória: Pennachi, Zanini, Rebolo Gonçalves, Paulo Rossi, De Fiore, Clóvis Graciano, Quirino da Silva, Carlos Prado, Mario Pacheco e Bonadei, etc (...)” . Ilustrando o artigo, o suplemento traz imagens de gravuras de Zanini, Clóvis Graciano e demais artistas. Zanini fez uma série de gravuras em madeira e em linóleo que o aproximaram da estética expressionista. Os nus, produzidos na década de 60, já mostram um artista buscando a linha mais solta pelos usos das aquarelas, do lápis de do nanquim sob papel. É também do crítico Sergio Milliet a apresentação dos trabalhos feitos pelo artista em azulejo para a Osiarte, uma industria de azulejos de Luiz Rossi Osir que reunia diversos outros artistas que, segundo o crítico ‘atacavam os motivos mais populares e nossas lendas e de nossas festas”. Milliet explica a experiência da Osiarte na réplica de artigo escrito e publicado pelo O Estado de São Paulo , em 1941: “(...) obra coletiva e não pessoal”.
Apesar da origem humilde, Mario Zanini destaca-se pelo seu preparo intelectual e pelos conhecimentos acumulados nas áreas não só das artes plásticas, mas da música e da literatura. Muito significativo é o núcleo montado na mostra dos seus objetos pessoais e a relação de livros que compunham a sua biblioteca, destacadamente os livros italianos. Nas décadas de 30 e 40, Zanini estava lendo Matteo Marangoni, em “Aprenda a ver” – como se contempla uma obra de arte; Ridolfo Mazzucconi , em Leonardo Da Vinci; G. Severini, em Ragionamenti- Sulle Arti Figurative; Benedito Croce, em Breviário de Estética. Há também uma grande quantidade de livros escritos em francês e português. A coleção de livros do artista pertence ao acervo do Museu de Arte Contemporânea, da USP.
Osiarte
Fábrica de Artistas
A Osiarte era um Atelier de Arte Decorativa, criado em 1940 pelo arquiteto e artista Paulo Cláudio Rossi Osir para executar inicialmente, a encomenda de painéis de Gustavo Capanema, para o prédio do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Muitos artistas, particularmente os da Família Artística Paulista, núcleo o qual pertencia Mario Zanini, aglutinaram-se em torno da Osiarte que com o tempo, estendeu suas atividades a outros estados brasileiros. Suas encomendas iam de grandes painéis a trabalhos decorativos de pequena dimensão, como azulejos e painéis de uso doméstico.
Serviço
Mario Zanini – Territórios do olhar
Data: até 13 de maio de 2007
Local: Museu de Arte Brasileira da FAAP
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
Horário de Funcionamento do Museu: Terça a Sexta, das 10h00 às 21h00
(última entrada às 20h00)
Sábados, Domingos e Feriados, das 13h00 às 18h00 (última entrada às 17h00)
Informações: (11) 3662-7198
ENTRADA GRATUITA
Curadoria: Daisy Peccinini
Imagens da mostra – Divulgação
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